Valéria desceu do carro e em seguida abriu o porta-malas que estava lotado com muitas sacolas. Naquele ano a sua casa seria a mais bonita da rua, havia escolhido a dedo os enfeites de Halloween que colocaria por todo lugar.
Ao abrir a porta foi recebida por Manolo, seu cachorro que sempre parecia estar sorrindo para ela.
O sol já ia se pondo e aquela cena a deixava nostálgica. Saboreando seu café ela olhava pela janela e se recordava dos tempos em que vivia no Brasil e no fundo ela sentia muita falta do calor do povo brasileiro. Fazia cinco anos que ela vivia na Califórnia devido seu trabalho, a chance da sua vida.
Após terminar a faculdade seu chefe a chamou e disse a ela que havia um cargo a ser ocupado no exterior e como ela ainda era estagiaria perguntou seu interesse para se tornar efetiva na empresa. Ela não pensou duas vezes em acertar os detalhes e aceitar a proposta que ele havia feito.
No inicio foi difícil a adaptação, mas como o tempo cura tudo, com ela não foi diferente. Fez amigos, conheceu lugares se deu muito bem na sua profissão, tudo era realmente perfeito.
Nas noites frias ela sentia falta de uma pessoa para conversar, mas desistiu do amor depois da ultima decepção que teve com um namorado que a trocou por uma japonesa.
Fez um carinho no cachorro e começou a desempacotar as coisas, precisava se mexer e começar a arrumação faltava somente dois dias para o Halloween.
Eram altas horas da noite quando Valéria terminou de colocar o ultimo enfeite de abobora na sacada da varanda.
- Ficou muito bonito – disse Senhora Leonora ao se aproximar.
- Que bom que a Senhora gostou!!! – disse Valéria alegrando-se com o elogio.
Senhora Leonora era uma das vizinhas de Valéria. Tinha aproximadamente sessenta anos e era casada com Senhor Juan da mesma idade.
Leonora adorava aquele lugar, jamais se arrependera de ter fugido do México com seu marido para viver aquele grande amor que durará até hoje. Trabalhou a vida inteira em casa de família assim como Juan que dedicou a sua vida deixando os jardins dos americanos mais bonitos.
Agora aposentados, passavam a vida viajando e conhecendo lugares novos, mas quando estão em casa gostavam de passear pela vizinhança e saber sempre das boas novas.
Valéria adorava quando eles a convidavam para jantar, Dona Leonora tinha uma mão maravilhosa para a comida, principalmente comida mexicana.
Nunca tiveram filhos por uma doença que Leonora contraiu quando nova tirando a possibilidade de ela ter bebes.
Deveria ser por isso que Valeria se sentia tão protegida quando estava com eles, sempre a trataram com muito carinho e por onde eles passavam sempre traziam uma lembrança para ela.
Havia também o Senhor Johnson, um velho rabugento que morava na casa em frente. Sempre quando Valéria o via limpando o jardim se aproximava e começava a falar. Ele nunca respondia, era como se fosse mudo, mas Valeria sabia que aquela atenção que ela o dava lhe fazia bem. Ele era um senhor muito solitário, diziam os outros vizinhos mais antigos que nem sempre as coisas foram assim e que ele se tornou triste desde que sua mulher e seu filho morreram em um acidente de carro. Desde aquela data nunca mais ele foi o mesmo.
Quando chegava o Halloween às crianças viviam apostando em quem tinha coragem de bater na porta do Senhor Johnson.
Todos sabiam que ele odiava essa data. Odiava quando as crianças batiam em sua porta, odiava toda essa harmonia que plainava pela cidade.
Valéria se divertia muito com isso, a raiva do Senhor Johnson a divertia por dias. Mas no fundo ela sentia que ele era um homem bom. Apenas era solitário.
Trocou mais algumas palavras com Leonora e logo ela se foi. Do outro lado da rua ela viu que os filhos dos Winchester estavam conversando sobre algo que ela não conseguia compreender. Ao se aproximar viu que havia alguém que ela não conhecia.
- Oi crianças, como estão?
- Estamos bem – disse Lilian se aproximando e abraçando Valéria.
- O que estão fazendo a essa hora na rua?Já passam das dez e meia da noite sabiam?
- Minha mãe deixou a gente brincar até mais tarde hoje, sabe como é eles estão com visitas não querem que atrapalhem a conversa dos adultos. – Disse Hiago irmão de Lilian
- Já conhece nossa nova amiga Valéria? – perguntou Lilian – Essa é Glória, ela é filha dos amigos do meu pai que estão jantando lá em casa hoje, ela vai passar alguns dias conosco por que seus pais vão viajar para fechar um grande negócio na China.
- Shiii cala a boca Lilian, o papai disse que não é para ficarmos falando das coisas que se conversam dentro de casa aqui na rua. – disse Hiago.
Valéria riu.
-Não se preocupem crianças, eu prometo guardar segredo – disse ela dando uma piscadela.
Aproximou-se de Glória, uma linda menina de cabelos e olhos castanhos.
- Oi Glória, seja muito bem vinda ao nosso bairro – disse Valeria toda atenciosa.
A menina indiferente não lhe deu atenção. Virou as costas e correu para a casa. Valeria ficou meio sem jeito.
- Acho que não agradei – disse ela para as crianças.
- Não se preocupe Valéria, ela é assim mesmo.
Valéria deu um beijo nas crianças e aconselhou que fossem pra casa, era muito tarde para estarem ali.
Caminhou de volta para seu jardim e percebeu que Sr. Johnson observava pela janela. Ela para provocar acenou com a mão apontou para a casa e como se estivesse perguntando se estava bom fez um sinal de positivo com o polegar.
Ele enraivecido fechou a cortina bruscamente.
Valéria sorriu e não demorou para entrar,já era tarde,hora de dormir.
Valéria acordou cedo tomou seu café e seguiu para o trabalho que naquele dia estava muito pesado. O assunto do intervalo do café eram as comemorações do dia das bruxas, todos comentavam como suas casas estavam enfeitadas ou sobre a fantasia que haviam comprados para seus filhos. Eram nesses momentos que Valéria de sentia meio isolada, tinha vinte e sete anos e quando pensou em se casar foi traída. Foi uma das piores decepções da sua vida por que em sua cabeça ela estava vivendo um verdadeiro conto de fadas.
Estava viajando em seus pensamentos quando sentiu alguém puxar seu braço. Era Gustavo, um Argentino que trabalhava no mesmo setor que ela.
Haviam começado a trabalhar juntos na mesma época e se tornaram grandes amigos. Apesar que Gustavo não cansava de repetir o quanto a queria como namorada. Mas não, ela não tinha mais esperanças no amor, mas o considerava um bom amigo.
- Perdida no assunto Valéria?Não me diga que esta contando a eles sobre a fantasia que comprou para pedir os doces amanhã? – disse ele sorrindo.
- Faça meu favor Gustavo – respondeu ela dando um leve tapa em seu ombro.
- O que esta pensando em fazer amanhã à noite? – perguntou ele.
- Nada em especial. Comprei uns doces e meus planos são ficar em casa escolhendo se vou querer as travessuras. Sabe como é fazendo a alegria da criançada.
- Estava pensando em comprar umas bobagens pra gente comer e alugar uns filmes de terror para levarmos uns sustos. Poderia ser na sua casa mesmo.
- Claro Gustavo, eu aceito sim, não vou fazer nada mesmo. Podemos sair daqui depois do expediente e já passamos na locadora, por que você é um desastre para escolher filmes de terror.
- Ui como você é chata – disse ele.
- Blé.
Despediu-se e voltaram a trabalhar. Aquele dia realmente foi muito pesado e o volume de trabalho foi tão intenso que Valéria decidiu ficar trabalhando até mais tarde.
A coisa que mais gostava era ficar sozinha no escritório. Sem aquele monte de gente falando, sem telefones tocando, sua capacidade de concentração era completa. Apesar que naquele dia não tinha despertado muito bem e por isso talvez o dia tenha rendido pouco. Havia acordado a noite toda devido a pesadelos que ela teve com a menina a qual foi apresentada. Glória tinha deixado Valéria intrigada, por que será que a menina não tinha ido com a sua cara?Ela era sempre tão atenciosa com as crianças e aquela foi a primeira vez que uma delas havia rejeitado a ela.
Eram nove da noite quando Valéria definitivamente decidiu parar com o trabalho. Boa parte já havia sido adiantada.
Saiu do prédio e passou em um restaurante para pegar a comida japonesa que havia encomendado. Arrependeu-se de ter deixado o carro na revisão naquele dia, não tinha coragem de pegar um ônibus, iria demorar muito, andou duas quadras e pegou um taxi. Pediu ao motorista para deixá-la na esquina. Adorava caminhar no breu da noite.
Contando os passos notou que a rua estava mais enfeitada que no dia anterior, monstros, aboboras e bruxas, tudo muito lindo. Mas enquanto caminhava notou uma movimentação estranha no jardim dos winchester. Entre os arbustos algo se mexia. Sentiu uma pontinha de medo e não sabia por que. Foi aproximando-se lentamente até que se deparou com aquela cena horrível. Glória com uma faca de cozinha na mão destrinchava Pety a cadelinha poodle da família.
- Que diabos você esta fazendo? – perguntou Valéria assustada.
A cadela estava de barriga pra cima com uma abertura do peito até os genitais, suas entranhas estavam para fora, nas mãos da menina.
Glória ao olhar Valéria arregalou os olhos e saiu correndo.
Valéria estava assustadíssima. Precisava imediatamente avisar os Winchester.
Carine Winchester abriu a porta assustada. Valéria estava tão nervosa que não percebeu a violência com a qual batia.
- Aconteceu alguma coisa Valéria?
- Aconteceu sim Carine, a sua cachorrinha...
- Estou escutando – disse Carine
- Então ela esta morta.
Carine arregalou os olhos.
- Como?
- Isso mesmo, eu estava voltando do trabalho, caminhando pela rua quando vi uma movimentação nos arbustos do seu jardim.
Carine era muito apegada aos animais e assim que recebeu a noticia seguiu para o jardim, não demorou muito para se deparar com a cena e começar a chorar. Seu marido que acompanhava tudo da janela viu a tristeza da esposa e veio ampará-la.
- Você viu quem fez isso Valéria? – perguntou ele
- Eu vi sim senhora – disse Valéria sem jeito.
- Então? – perguntou Carine.
- Foi a Glória!
- Como disse? – assustou-se Leandro
- Isso mesmo que o senhor ouviu, quando me aproximei ela estava com a faca e as entranhas do animal nas mãos.
Os dois correram pra dentro da casa atrás da menina, Valéria foi atrás.
Ao chegarem no quarto para o espanto de Valeria a menina estava dormindo tão profundamente como se nunca tivesse despertado no meio daquela noite.
Carine balançou Glória e ela acordou. Leandro não acendeu a luz para não acordar as outras crianças.
Sentaram-se os quatro na sala de estar e Carine começou a questionar Glória. A menina negou toda a história.Afirmou aos donos da casa que não havia acordado naquela noite e que desde a hora do jantar não tinha visto mais a cadelinha.
Valéria achou um absurdo a menina estar mentindo, pois ela tinha visto que Gloria havia sim matado a cachorra.
Ficaram conversando por alguns minutos até que a menina começou a chorar e chamar pelos pais que estavam viajando. Leandro comovido com a cena mandou que parassem com aquele questionamento,que a cachorra estava morta e que Valéria poderia ter se enganado com alguma outra criança.
Valéria tentou se defender e a afirmar que tinha sim visto a menina, mas os winchester não queriam mais saber daquela conversa e pediram educadamente que aquele assunto encerrasse.
Valeria morrendo de raiva despediu-se e se foi.
Ao chegar na frente da sua casa notou que Sr.Jhonson estava acordado olhando pela janela.
Estava com tanta raiva que naquele dia decidiu não fazer nenhuma brincadeira. Entrou e bateu a porta com força.
Sentou-se no sofá e pegou o telefone, ligou para Gustavo, precisava desabafar. Contou tudo ao amigo que notou que Valeria chorava.
- Calma mulher, isso foi só uma travessura de criança.
- Um travessura de criança?Ela abriu a cadela de ponta-a-ponta Gustavo, isso não é travessura de criança, isso é maldade de um demônio.
- Olha, não fica assim, toma um banho, faz uma refeição leve e vai pra cama, você precisa descansar amanhã a gente conversa mais sobre esse assunto ok?
- Esta bem, você tem razão, um beijo.
- Hei, mais uma coisa...
- Sim, pode falar.
- Eu sei que você não quer saber de mim,mais eu te amo,conta comigo sempre tá?
- Obrigado por seu carinho...
- Não é carinho, é amor!
Sem jeito ela desligou. Gustavo sabia que mexia com ela,mas Valeria estava irredutível.
Foi até o banheiro, ligou o chuveiro e se despiu. A água quente a fez relaxar.Passado uns quinze minutos ela desligou e ao abrir a cortina deu um salto do susto que levou ao ver quem estava ali.
- Glória, o que faz aqui? – perguntou ela a menina.
- Vim ver se você estava bem depois do vexame que passou ao me delatar, não pensou que eles acreditariam em você, pensou? – disse gargalhando
- Ora, seu demônio!!! – disse enraivecida
Quando foi sair da banheira para pegar a garota, Valéria enroscou o pé na cortina e caiu violentamente no chão desmaiando em seguida.
Já estava amanhecendo quando Valéria acordou com as lambidas do seu cachorro.
Sua cabeça doía, e havia um pouco de sangue pelo chão. Levantou-se lentamente e caminhou pela casa,checou as portas e elas estavam trancadas.
A menina não havia estado ali?Tinha sido uma ilusão?Ela não sabia, e mesmo que tivesse certeza não poderia provar jamais se arriscaria a passar novamente por aquela situação vexamosa.
Fez um café e saiu no quintal, Sr. Jhonson estava no jardim arrancando o capim do meio das flores. Olhou para o jardim dos Winchester e o cachorro não estava mais lá,Glória estava na janela olhando para Valéria.
Valéria atravessou a rua e foi conversar com seu vizinho.
- Eu passei uma vergonha ontem Sr.Jhonson.
Silêncio.
- O Sr.acredita que eu vi a Glória, sabe a hóspede dos winchester, matando a mascote da casa e contei a eles, mas não tive crédito?!
Silêncio.
No final de tudo, de ver a cena da cadela morta, da minha declaração, eles decidiram acreditar em uma menina de sete anos... Eles não disseram nada,mas não precisou,estava na cara que acharam um exagero eu insistir na confirmação da culpa da garota.
Silêncio.
- O senhor acha que eu posso ter me enganado mesmo?Acha que poderia ter sido outra criança?
Silêncio.
- Já imaginei – disse decepcionada.
- Um ótimo dia para o Senhor. – virou as costas e partiu.
- Os demônios.... – disse Sr.Jhonson
Valéria assustou-se e virou imediatamente para ele. Nunca tinha escutado a voz daquele senhor.
- Os demônios são tão poderosos que podem se esconder em qualquer forma de vida, e são muito mais perigosos quando se apoderam de almas puras como as das crianças.
Valéria estava assombrada. Ele nunca tinha falado com ela e quando decidiu abrir a boca ele manda uma frase poderosa como aquela.Ela nem sequer teve tempo de retribuir o comentário por que ele disse aquilo e se retirou rapidamente.
Quando se deu conta já estava atrasada, vestiu-se pegou um taxi e foi buscar seu carro na revisão.
Era Halloween.
Enquanto Valéria dirigia para o trabalho olhava as outras casas que diferente dos anos anteriores estavam todas com as janelas fechadas. Normalmente o Halloween era uma data comemorada com muita alegria e as crianças acordavam cedo ansiosas esperando pela hora de vestir sua fantasia e sair pedindo doces.
Parecia que estava dirigindo por uma cidade fantasma.
Parou no semáforo e a olhar pela janela do carro avistou um mendigo sentado próximo a uma lanchonete, ele segurava uma placa onde estava escrito a frase:
“E naquele dia o demônio desceu a Terra e levou a alma daqueles que tentaram impedir a sua caminhada...”
- Que Horror! – disse Valéria.
O semáforo abriu e ela acelerou o carro distraída e quando olhou para frente viu uma criança fantasiada. Assustada freou o carro bruscamente.
- Ai meu Deus, será que eu bati nela?
Desceu do carro, mas para sua surpresa não havia Ninguém.
- Definitivamente preciso de um cigarro.
- Hei Valéria – acenou Carine Winchester
- Bom Dia Senhora Carine – disse um pouco envergonhada pela situação do dia anterior.
- Valéria, eu e Leandro vamos fazer uma festa para comemorar o Halloween hoje à noite na nossa casa, e bem... Gostaríamos de contar com sua presença.
- Carine, bem, não sei se devo...
- Por favor, Valéria, eu e Leandro fazemos questão, mesmo por que gostaríamos de desfazer o clima que se formou com o episódio da morte de minha cachorra.
- É que eu já tenho um compromisso para hoje à noite...
- Traga o seu compromisso para nossa festa Valéria, por favor, nós insistimos.
- Bem, ok então... A que horas?
- A festa começa às oito da noite. Te esperamos.
- Ok.
Despediram-se e Carine partiu.
Valéria chegou ao trabalho com quase uma hora de atraso. Como todos os dias sua mesa estava com uma pilha de serviço a ser feito.
Faltavam cinco minutos para o meio dia quando Gustavo escutou seu ramal tocar, era Valéria o convidando para almoçar.
- Claro, me espera que saímos juntos. – disse ele desligando em seguida.
No restaurante Valéria tratou de avisar Gustavo que fariam um programa diferente naquela noite.
- Pois é Gustavo, Carine Winchester me convidou para uma festa na casa dela e disse que poderia levá-lo comigo.
- Ótimo!!! Faz tempo que não vou a uma festa de arromba.
- Festa de arromba? – riu – Esta na hora de renovar o vocabulário Gustavo.
- Ble! – brincou ele.
- Então que hora posso chegar à sua casa?
- Vamos sair juntos daqui do trabalho, ai passamos na sua casa você se arruma e depois seguimos para a minha.
- Perfeito.
Eram oito da noite quando Valéria e Gustavo chegaram à casa dos Winchester. A Festa do dia das bruxas iria começar.
Carine os recebeu com um sorriso nos lábios e os encaminhou animadamente para o salão de festas que estava todo decorado. Velas negras, fantasias por todos os lados e comida e bebida a vontade.
Toda sorridente Carine trouxe uma taça de bebida para os dois.
- Valéria, que bom vê-la aqui.
- É um prazer comparecer a sua festa Carine, bem, esse aqui é o meu amigo Gustavo.
- Muito prazer Carine Winchester.
- O prazer é todo meu.
- Bem aproveitem a festa.
- Obrigado - responderam em uníssono.
- Acho que a festa vai ser animada hein, os Winchester não pouparam esforços – disse Gustavo
- E nem dinheiro – respondeu Valéria.
Ao correr os olhos pela casa notou que os pais de Glória estavam presentes, a menina estava toda contente no colo do pai.
- Hei Gustavo, olhe ali, a encapetada.
- Valéria, calma não vamos dar vexame.
Glória deu um beijo em seu pai e um abraço em sua mãe e avisou que iria se juntar com as outras crianças.
No jardim Hiago, Lilian e Camila, amiga de Lilian conversavam sobre os doces que haviam conseguido.
- Oi Glória, quer brincar com a gente? – perguntou Lilian.
- As brincadeiras das crianças da Califórnia são muito bobas – disse a garota.
As outras crianças fizeram cara de espanto.
- E o que você sugere? – perguntou Hiago.
- Hoje é Halloween não é?
Todos concordaram.
- Então nós podemos brincar de Serial Killer – disse Glória.
- Serial Killer?
- Isso Lili... Serial Killer é como se fosse um pega-ladrão, vocês se escondem e eu vou atrás de vocês, e se eu encontrá-los, os mato.
As crianças se entreolharam. Silêncio.Logo em seguida todos gargalharam eufóricos.
- E então, aceitam?
E a brincadeira então começou. Enquanto as crianças procuravam se esconder,Glória foi na cozinha e pegou a faca mais afiada que encontrou.Para ela a diversão começaria naquele momento.
Glória sempre se sentiu diferente das outras crianças, por mais que seus pais fechassem os olhos eles sabiam também que ela não era normal. Por isso conforme o tempo foi passando ela foi tratando de mudar seu comportamento para que eles pensassem que ela só estava passando por uma má fase.
Nunca tinha matado uma pessoa i, mas sabia que seu extinto estava esperando o momento certo.
E aquele momento havia chegado.
Retornou ao jardim e não havia mais ninguém, as crianças haviam se escondido.
Camila estava indecisa do lugar onde deveria se esconder, só restavam duas opções: atrás de um arbusto em um quintal próximo ou no jardim do Sr.Jhonson.
Quando viu que Glória já estava procurando os demais ela meteu-se no jardim do homem mais temido da rua.
Duvido que ela vá ter coragem de me procurar aqui.
Glória caminhava em direção a casa do Sr.Jhonson, viu quando Camila entrou no jardim dele.
- Onde essa bobinha pensa que vai.
Camila espionava por todos os lados, sentia medo. Sr.Jhonson tinha um canil e ela rapidamente entrou dentro dele.Só ouvia o som da sua respiração ofegante.
Não foi difícil para Glória encontrar Camila que ao vê-la soltou um grito e logo depois uma gargalhada.
- Ah!Assim não vale, foi fácil demais – riu Camila. – Hei você leva essas brincadeiras a sério, precisava mesmo pegar uma faca?
- Claro que levo, lembra-se do que eu falei?Se eu encontrar então eu mataria.
Camila sentiu algo estranho no ar.
- Não quero brincar mais, posso passar?
- Não aceitamos desistência neste jogo – disse Glória aproximando-se cada vez mais de Camila.
Quando Glória finalmente iria dar uma facada na menina, Sr.Jhonson aparece e a derruba com uma bofetada.
- Velho Maldito.
Camila fugiu e Jhonson pegou Glória pelos cabelos.
- Não é muito difícil reconhecer a face do demônio em garotas como você.
E assim foi arrastando ela para fora do seu quintal.
Valéria tomava um ponche de uvas enquanto passeava pelo jardim com Gustavo quando presenciou a cena.
Sr.Jhonson! – gritou Valéria.
Gustavo apavorado correu para socorrer Glória.
- Sr.Jhonson o que o Senhoresta fazendo?- Perguntou Valéria – Ela é só uma criança!
- Ela não é uma criança, ela é um demônio, se eu não chego a tempo ela iria matar a Camila.
Valéria e Gustavo se entreolharam.
Glória deu uma mordida na mão do velho e conseguiu escapar.
- Gustavo a gente tem que fazer alguma coisa – disse Valéria.
- Onde estão os pais dessa criatura? – perguntou Jhonson.
- Na festa de Halloween – respondeu Valéria.
Todos estavam rindo, alegres, alguns cantavam ao lado do piano, outros jogavam cartas. Todos estavam descontraídos.
Valéria correu os olhos pelo salão e viu do outro lado os pais de Glória conversando alegremente com os donos da casa.
Os três foram até eles que ficaram assustados quando foram abordados.
- Os senhores são os pais de Glória? – perguntou Valéria.
- Sim – responderam em uníssono.
- Precisamos conversar sobre sua filha – disse Gustavo.
De repente as luzes se apagaram e ouviu-se o burburinho das pessoas que pensavam ser uma surpresa dos Winchester.
- Leandro o que está acontecendo? – perguntou Carine.
- Eu é que te pergunto – respondeu ele.
Carine caminhou entre os convidados desculpando-se sempre do imprevisto. Ao chegar perto da porta notou que ela estava fechada.Tentou forçá-la mas ela estava trancada.
- Mas o que esta acontecendo aqui? – disse Leandro.
Gustavo e Valéria não gostavam nada daquilo. Sr.Jhonson não tinha dúvidas do que estava se passando.
- Ela vai nos matar - disse ele.
- Não diga isso Sr.Jhonson, o senhor me assusta - disse Gustavo.
Gustavo e Valeria aproximaram-se da porta e tentaram abrir, mas em vão.
Uma sensação de calor começou a tomar conta dos convidados da festas, ninguém entendia nada.
- Hei olhem! Fumaça – disse um dos convidados apontando para uma saída de ar condicionado na parede.
- Ai meu Deus!Fogo!Fogo! – gritou alguém.
As pessoas começaram a correr de um lado para o outro no salão causando alvoroço.
Valeria e Gustavo fizeram de tudo para abrir a porta, mais foi em vão. Correram até o Sr.Jhonson e ele estava sentando em um sofá de olhos fechados.
- O que o Senhoresta fazendo?
- Não adianta tentarem, o demônio nos pegou.
- Não diga isso, nos ajude a sair daqui – disse Gustavo tossindo por causa da fumaça.
- Você vê alguma saída?
Valeria e Gustavo se entreolharam. Não havia saída.Já sufocados entrelaçaram os dedos e não demorou muito para as pessoas começarem a perder os sentidos.
Do lado de fora Glória observava tudo. Até que não foi difícil encontrar um pouco de gasolina naquele
lugar.De Braços cruzados e um sorriso maroto nos lábios ela observava as labaredas do fogo.
Precisava sair dali. Chamar ajuda para não levantar suspeitas.Caminhando pela rua avistou Hiago e Lilian.
- Hei Glória, nos cansamos de esperar você nos procurar, sinceramente você não é boa nisso – disse Hiago sorrindo.
- Acho que não mesmo – respondeu ela.
- Hiago, meu irmão que fogo é aquele? - disse Lilian.
Os dois correram para tentar fazer algo, mas foi em vão. O Fogo já estava muito alto.Glória pegou o telefone e chamou os bombeiros.
Quando eles chegaram já era tarde demais, ao abrir a porta todos que estavam lá presos haviam morrido.
O cheiro de carne queimada era insuportável.
No carro da ambulância as crianças eram consoladas.
Bruno e Lívia haviam chegado cedo. Estavam ansiosos por aquela visita.Sentaram-se no sofá de couro envelhecido e
esperaram.Na mesinha ao lado haviam alguns jornais e revistas antigos.
Bruno pegou o jornal e começou a ler a matéria da capa.
Doce ou Travessura”.Um grande incêndio atingiu a casa da família Winchester ontem por volta das dez horas da noite. Ninguém sabe como o fogo iniciou-se,os bombeiros acreditam ter sido problema na fiação do salão de jogos que a família possuía e onde estava sendo dada uma festa de Halloween.Não houve sobreviventes.A família esta cuidando dos filhos do casal Hiago e Lilian.
Glória, uma hospede da família também perdeu os pais na tragédia, a garota será encaminhada para a adoção caso nenhum familiar se manifeste.- Pobre Glória - disse Bruno.
Lívia acariciou o rosto do marido.
- Senhores, boa tarde – disse amavelmente Francisca, diretora do orfanato Vida & Esperança.
- Boa Tarde – responderam
- Ela já esta pronta para recebê-los.
- Estamos ansiosos para conhecê-la, será que ela vai gostar de nós? – perguntou Lívia.
- Tenho certeza de que vocês irão adorá-la.
Caminharam por um corredor onde dava em um jardim lindo.
Aproximaram-se e Francisca como sempre se pronunciou.
- Glória, esses são Bruno e Lívia.
A menina de olhos castanhos e coração macabro com um sorriso largo carinhosamente os recebeu...
Fim.
Creditos > Renata .